sábado, 12 de novembro de 2016

Velha História



Mário Quintana 

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então, ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelo café. Como era tocante vê-los no "17"! o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial... Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho: "Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!...Dito isso, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez redemoinho, que foi depois serenando, serenando... até que o peixinho morreu afogado...

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Bela, recatada e do lar



Letra: Rodolfo Pamplona Filho e Marianna Chaves
Música: Adelmo Schindler Jr. e Ricardo Barata

Era bela, recatada e do lar
Moldada em uma velha lição
Pra ter só uma preocupação
Polêmica não venha criar
Se calada ficar e agradar

Era bela, recatada e do lar
Foi criada para não reclamar
Educada pra trabalho não dar
Mas não aceitava imposição
De um modelo de castração

Bela, recatada e do lar
Fera sensitiva e do bar
Sabia que o trabalho era duro
As vezes se perdia no escuro
Mas no fim só queria sambar

Bela, recatada e do lar
Sagaz e sabia mandar
Sua moral e suas éticas próprias
Nas loucuras pouco sóbrias
Que fazem o corpo dançar

Era bela, recatada e do lar
Queria ter apenas o mundo
Viajar no tempo em um segundo
Dominar as notícias e o fogão
Tudo que despertasse a paixão

Era bela, recatada e do lar
Seja linda desbocada e meretriz
Judiada descuidada e atriz
A alegria pavimenta o sonhar
Até de quem não é...
ou não quer virar...

Bela, recatada e do lar

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A Vida


Florbela Espanca

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés d'alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo donde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia...
A gente esquece sempre o bem dum dia.
Que queres, ó meu Amor, se é isto a Vida!...

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Soneto para Catarina



Rodolfo Pamplona Filho

O mundo ganhou nova cor
e se tornou pleno de carinho,
quando o fruto do amor
chegou devagarzinho...

Bem-vinda à vida,
pequena Catarina!
Que seu olhar tranquilo
seja o mais doce abrigo

para acalmar o coração
de quem ama sem juízo
e se entrega em paixão...

Que todo dia seja especial,
como o seu lindo sorriso,
que nos traz paz, afinal.

No vôo de Salvador
para Imperatriz-MA (via Brasília),
09 de novembro de 2011.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

UM INSTANTE



Ferreira Gullar

Aqui me tenho
como não me conheço
nem me quis

sem começo
nem fim

aqui me tenho
sem mim

nada lembro
nem sei

à luz presente
sou apenas um bicho
transparente

domingo, 6 de novembro de 2016

Sobre o presente e o futuro...


Rodolfo Pamplona Filho
Eu tenho planos para você,
não programações ou agendas...
Já pensei em deixar você...
já olhei tantas vezes para o lado...
mas quando penso em alguém...
é por você que fecho os olhos....

Eu não preciso dizer mais nada.
Eu te amo com toda força do mundo..

Salvador, 26 de novembro de 2010