sábado, 31 de maio de 2014

Cultura



Cultura

Arnaldo Antunes

O girino é o peixinho do sapo
O silêncio é o começo do papo
O bigode é a antena do gato
O cavalo é pasto do carrapato
O cabrito é o cordeiro da cabra
O pecoço é a barriga da cobra
O leitão é um porquinho mais novo
A galinha é um pouquinho do ovo
O desejo é o começo do corpo
Engordar é a tarefa do porco
A cegonha é a girafa do ganso
O cachorro é um lobo mais manso
O escuro é a metade da zebra
As raízes são as veias da seiva
O camelo é um cavalo sem sede
Tartaruga por dentro é parede
O potrinho é o bezerro da égua
A batalha é o começo da trégua
Papagaio é um dragão miniatura
Bactérias num meio é cultura

sexta-feira, 30 de maio de 2014

O Som e a Dor (A Canção)


O Som e a Dor (A Canção)


Eu ouço o mar cantando
nas ondas que quebram na praia
e sinto a melodia
em ferida que não sara...

Uma forte dor de perda
é esperar quem não virá:
o pai que nega o filho,
pescador perdido no mar...

a mãe que nunca dorme
na espera de quem não irá
receber seu doce beijo...

É a cicatriz eterna
do som que é lembrança
e confunde o desejo...

O Som...

O choque de água nas pedras
marca o compasso da canção,
na força do choro de eras
que provoca a emoção

no lamento impossível
de somente esquecer
a nota quase inaudível

no momento de anoitecer,
somente perceptível
por quem conhece o sofrer...

A Dor...

Viver é uma aventura
sem perder a ternura
de não deixar de recordar...

O Som, O Mar, A  Dor
O Tom e O Sonhador
Eu sou O Som e a Dor

O Som e a Dor que deságuam
no oceano do amor...
O Sonhador e a lágrima
no oceano do amor...

lá-ri-ri-lá-lá-lá-lá-lá-lá...

Letra: Rodolfo Pamplona Filho
Música: Luciano Calazans 

Brasília, 11 de março de 2013.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O PÃO DO POVO


O PÃO DO POVO
Bertold Brecht

A justiça é o pão do povo.
Às vezes bastante, às vezes pouca.
Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.
Quando o pão é pouco, há fome.
Quando o pão é ruim, há descontentamento.

Fora com a justiça ruim!
Cozida sem amor, amassada sem saber!
A justiça sem amor, cuja casca é cinzenta!
A justiça de ontem, que chega tarde demais!
Quando o pão é bom e bastante
O resto da refeição pode ser perdoado.
Não pode haver logo tudo em abundância.
Alimentado do pão da justiça
Pode ser feito o trabalho
De que resulta a abundância.

Como é necessário o pão diário
É necessária a justiça diária.

Sim, mesmo várias vezes ao dia.
De manhã, à noite, no trabalho, no prazer.
No trabalho que é prazer.
Nos tempos duros e nos felizes
O povo necessita de pão diário
Da justiça, bastante e saudável.

Sendo o pão da justiça tão importante
Quem, amigos, deve prepará-lo?

Quem prepara o outro pão?

Assim como o outro pão
Deve o pão da justiça
Ser preparado pelo povo.

Bastante, saudável, diário.

(Poemas -1913-1956 Editora 34 -Seleção e tradução de Paulo César
deSouza - página 322)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Com a cabeça quente...


Com a cabeça quente...

Rodolfo Pamplona Filho
Quando a cabeça esquenta
e o sangue ferve...
Quando o ar falta
e a raiva assume...
Quando a tristeza domina
e a frustração comanda...
Quando se sente traído
ou emocionalmente usado...
Deixemos Cronos resolver isso...


09/04, em Salvador/Bahia, e 01/05, em MannHein/Alemanha, em um papo virtual pelo what's up com um amigo incrivelmente talentoso e complexo...

terça-feira, 27 de maio de 2014

Sensações

Esses dias intermináveis, as horas não passam, consigo perceber cada minuto, segundo no relógio que até parece uma eternidade.Tenho a dor e o medo dentro de mim, que caminham lado-a-lado.Na espera incansável por algo que não tem cor, nem cheiro e nem forma. Tenho em mim a angustia de estar presa entre quatro paredes, olho pela janela e vejo um mundo enorme lá fora, uma noite sem lua, uma rua nua. Sinto-me com um nó na garganta com gosto de sangue que corre entre minhas veias, todos dormem, dormem, só ouço o ruído do vento.
Preciso da liberdade dos passáros, eles sim, são livres e tem o privilégio de não pensar. Carrego dentro de mim algo inconstante, que vai e volta, que é livre.
E a noite continua silenciosa, e, como toda noite é uma boa conselheira, ouço apenas o silêncio.A vida é o embalar de uma música, você só precisa pegar o ritmo dela.Quantas noites precisarão passar para que eu encontre o meu caminho?

Carla Luiza de Almeida Cerqueira

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A Despedida do Psicopata

A Despedida do Psicopata

Rodolfo Pamplona Filho
É muito íntimo tirar
a vida de alguém...
É muito fácil matar
a esperança também...
Ser o último rosto
que vão ver...
É a ligação mais forte
que duas pessoas podem ter...


No vôo de Lisboa para Frankfurt, 28 de abril de 2013.

domingo, 25 de maio de 2014

TEMPO DE QUARESMA



                                                      TEMPO DE QUARESMA

            Quaresma. Tempo de recolhimento. Tempo de silenciar. Tempo de espera. Tempo de encontro e reencontro. Tempo de lançarmo-nos no mais profundo de nossa alma e lá, com olhar microscópico, tentar encontrar em nós o que há de bom e o que há de ser repensado, reparado. É especialmente tempo de faxina. Não daquela que só retira a poeira da superfície do móvel, mas daquela que, com a espátula, arranca as crostas que nos corroem a alma, e nos fazem endurecer diante da beleza da vida! Faxina com “F” maiúsculo! É dessa faxina que preciso. Eu preciso. E exatamente assim! Para retirar as crostas que deixei que se sedimentassem em mim, tomando o lugar da leveza e deixando tudo brutalizado, endurecido, ríspido! Não é fácil! É tempo em que se precisa estar preparado porque, se for de verdade esta jornada a que nos propomos ela vai doer! Vai revelar o que insistimos não enxergar. Vai desnudar o que fazemos questão de cobrir! Vai mexer no que se estagnou em nós, e nos acostumou a pensarmos e sentirmos pequeno! Coragem! Será preciso coragem! Não sei se a terei, mas o primeiro passo é o querer, e ela surge em mim com uma urgência urgentíssima. Estou no limite de minha humanidade! Pequenina e frágil humanidade. De uma coisa tenho certeza, há Aquele que me acompanhará incondicionalmente nessa aventura de Ressurreição. Sim, de Ressurreição. Presença presente, ausente aos olhos, mas concreta na jornada. O próprio CRISTO! Guia para a verdadeira travessia. Aquele que nos mostrará a outra margem! O outro lado! O lado bom de todos nós. A luz na escuridão e a calmaria na tempestade. Enfim, o que realmente pretendemos neste tempo especial é atravessaremos o deserto quaresmal para estarmos Nele mesmo. Fim maior, Supremo Bem. Onde sempre estaremos adequados, ajustados, equilibrados, leves, felizes, em paz. Nele, Ágape! Salvação, plenitude, vitória certa! Ele, o Cristo que nos limpará da lepra a que nos acostumamos. A lepra do egoísmo, da falta de perdão, do julgamento, da intolerância, da falta de valores, da prostituição do corpo e da alma, das guerras desmedidas e injustificáveis, de tudo, tudo que se opõe ao puro amor! A Ele, em quem devemos estar mergulhados como nossa eterna Quaresma! Que o próprio Espírito Santo nos fortaleça na busca quaresmal de nosso lugar em Jesus Cristo. Nosso Senhor! Meu Senhor! Meu amor! Vamos todos viver essa “aventura” salvífica que é o próprio Cristo! CORAGEM!!!  Ele mesmo, que nos amam desesperadamente, nos ajudará!!! Amém
                                                                                                                                 Andréia